ALICERCES DESTRUÍDOS: OS APÓSTATAS CONSEGUIRAM!
“Se o nosso Evangelho ainda estiver encoberto, está encoberto para aqueles que se perdem,
para os incrédulos, cujas inteligências o deus deste mundo obcecou a tal ponto que não
percebem a Luz do Evangelho, onde resplandece a glória de Cristo, que é a imagem de
Deus.” (2 Cor. 4, 3-4)
Carta de Dom Lefebvre ao Cardeal Ottaviani sobre o perigo que
corriam certas verdades fundamentais de nossa fé depois do
Concílio Vaticano II
“Um ano depois do Concilio, a fé de numerosos fiéis estava de tal maneira
abalada que o cardeal Ottaviani pediu a todos os bispos do mundo e aos
superiores gerais de ordens e congregações para responderem a uma pesquisa
sobre o perigo que corriam certas verdades fundamentais de nossa fé.”
“Parece-me oportuno publicar agora a resposta que lhe enviei como superior geral
da Congregação do Espírito Santo e do Santo Coração de Maria.”
Roma, 20 de dezembro de 1966.
Eminência reverendíssima,
Vossa carta de 24 de julho concernente à negação de certas verdades foi
comunicada pelo nosso secretariado a todos os nossos superiores maiores.
Dos erros difundidos por toda parte, uma nova religião
Chegaram poucas respostas. As que chegaram da África não negam que reina
atualmente uma grande confusão nos espíritos. Se estas verdades não são postas em
dúvida, no entanto, na prática, se assiste a uma diminuição do fervor e da
regularidade na recepção dos sacramentos, sobretudo do sacramento da
Penitência. Constata-se uma grande diminuição do respeito à Sagrada
Eucaristia, sobretudo por parte dos padres; esvaziamento das vocações
sacerdotais nas missões de língua francesa; as de língua inglesa e portuguesa estão
menos atingidas pelo novo espírito, mas as revistas e jornais já difundem teorias das
mais avançadas.
Parece que a causa do pequeno número de respostas recebidas provém da
dificuldade de perceber estes erros que são difusos em toda parte; o mal se situa,
sobretudo em uma literatura que semeia confusão nos espíritos pelas
descrições ambíguas, equívocas, mas sob a qual se descobre uma nova
religião. Creio meu dever vos expor com clareza o que ressalta das minhas conversas
com numerosos bispos, padres, leigos da Europa e da África, e também o que aparece
de minhas leituras em países ingleses e franceses.
O mal atual, continuação do liberalismo condenado pelos papas do século
XIX
De boa vontade seguiria a ordens das verdades enunciadas em vossa carta, mas
ouso dizer que o mal atual me parece muito mais grave do que a negação ou a
controvérsia de uma verdade de nossa fé. Ele se manifesta em nossos dias por
uma extrema confusão das idéias, pela desagregação das instituições da
Igreja, instituições religiosas, seminários, escolas católicas, em definitivo,
daquilo que foi o sustentáculo permanente da Igreja, mas não é outra coisa do
que a continuação lógica das heresias e erros que minam a Igreja desde os
últimos séculos, especialmente depois do liberalismo do sec. XIX que se
esforçou a todo preço para conciliar a Igreja e as idéias que saíram da
Revolução.
Na medida em que a Igreja se opôs a essas idéias que vão contra a sã filosofia e
a teologia, ela progrediu; do contrário todo compromisso com essas idéias subversivas
provocou um alinhamento da Igreja com o direito comum e o risco de tornar-se escrava
das sociedades civis.
Outrora, cada vez que grupos de católicos se deixavam atrair por esses
mitos, os papas, corajosamente, os chamavam à ordem, lhes esclareciam e se
preciso condenavam. O liberalismo católico foi condenado por Pio IX, o
modernismo por Leão XIII, o Sillon por são Pio X, o comunismo por Pio XI, e o
neomodernismo por Pio XII.
Graças a esta admirável vigilância a Igreja se consolida e se desenvolve. As
conversões de pagãos, de protestantes são muito numerosas; a heresia está em plena
derrota, os Estados aceitam uma legislação mais católica.
No entanto os grupos religiosos imbuídos destas idéias falsas conseguem
retomá-los na Ação Católica, nos seminários, graças a uma certa indulgência
de bispos e a tolerância de alguns dicastérios romanos. Em pouco tempo serão
estes padres que serão escolhidos para bispos.
O Concilio, casamento da Igreja com as idéias liberais
É aqui que se situa, então, o Concilio que se preparou pelas Comissões
preparatórias para proclamar a verdade em face desses erros, a fim de fazê-los
desaparecer por muito tempo do seio da Igreja. Seria o fim do protestantismo e o
começo de uma nova era fecunda para a Igreja.
Ora, essa preparação foi odiosamente rejeitada para dar lugar a mais
grave tragédia já suportada pela Igreja. Assistimos ao casamento da Igreja
com as idéias liberais. Seria negar a evidência fechar os olhos, não afirmar
corajosamente que o Concilio permitiu àqueles que professam os erros e as
tendências condenadas pelos papas citados acima, de crer legitimamente que
suas doutrinas estavam desde então aprovadas.
Então, quando o Concilio se preparava para ser um clarão luminoso no
mundo de hoje, se tivessem sido utilizados os textos pré-conciliares nos quais
se encontrava uma profissão solene de doutrina segura em relação aos
problemas modernos, pode-se e se deve infelizmente afirmar que de uma
maneira quase geral, quando o Concilio inovou, abalou a certeza de verdades
ensinadas pelo Magistério autêntico da Igreja como pertencendo
definitivamente ao tesouro da tradição.
Que se trate da transmissão da jurisdição dos bispos, das duas fontes da
revelação, da inspiração das Sagradas Escrituras, da necessidade da graça para a
justificação, da necessidade do batismo católico, da vida da graça nos heréticos,
cismáticos e pagãos, dos fins do casamento, da liberdade religiosa, dos fins últimos,
etc… Sobre estes pontos fundamentais, a doutrina tradicional é clara e ensinada
unanimemente nas universidades católicas. Ora, numerosos textos do Concilio
sobre estas verdades permitem atualmente pô-las em dúvida.
Conseqüências desastrosas do Concílio na vida da Igreja
As conseqüências foram rapidamente tiradas e aplicadas na vida da Igreja:
- As dúvidas quanto à necessidade da Igreja e dos sacramentos trazem o
desaparecimento das vocações sacerdotais.
- As dúvidas sobre a necessidade e a natureza da “conversão” de cada alma
trazem o desaparecimento das vocações religiosas, a ruína da espiritualidade
tradicional nos noviciados, a inutilidade das missões.
- As dúvidas sobre a legitimidade da autoridade e a exigência da obediência
provocada pela exaltação da dignidade humana, da autonomia da consciência, da
liberdade, abalam todas as sociedades a começar pela Igreja, as sociedades religiosas,
as dioceses, a sociedade civil, a família.
O orgulho traz como conseqüência todas as concupiscências dos olhos e da carne.
Talvez seja uma das constatações mais atrozes de nossa época, ver a que decadência
moral chegou à maior parte das publicações católicas. Falam sem o menor pudor da
sexualidade, da limitação dos nascimentos por qualquer meio, da legitimidade do
divórcio, da educação mista, do flerte, dos bailes como meios necessários à educação
cristã, do celibato dos padres, etc.
- As dúvidas sobre a necessidade da Igreja única fonte de salvação, sobre a
Igreja católica única religião, provenientes das declarações sobre o ecumenismo e
liberdade religiosa, destroem a autoridade do Magistério da Igreja. Com efeito, Roma
não é mais a “Magistra Veritatis (Mestra da Verdade)” única e necessária.
É preciso, pois, forçado pelos fatos, concluir que o Concilio favoreceu de uma
maneira inconcebível a difusão dos erros liberais. A fé, a moral, a disciplina eclesiástica
foram abaladas em seus fundamentos, segundo as previsões de todos os papas.
A destruição da Igreja avança a passos rápidos. Por uma autoridade
exagerada dada às Conferências episcopais, o Soberano Pontífice tornou-se
impotente. Em um só ano, quantos exemplos dolorosos! No entanto o Sucessor
de Pedro e só ele pode salvar a Igreja.
Remédios propostos
Que o Santo Padre se cerque de vigorosos defensores da fé, que os designe em
dioceses importantes. Que se digne por documentos importantes proclamar a verdade,
perseguir o erro, sem temor das contradições, sem temor dos cismas, sem temor de
por em causa as disposições pastorais do Concilio.
Digne-se o Santo Padre: encorajar os bispos a endireitar a fé e os costumes
individualmente, cada um em sua respectiva diocese, como convém a todo bom pastor;
sustentar os bispos corajosos incitá-los a reformar seus seminários, e restaurar aí o
estudo de Santo Tomás; encorajar os superiores gerais a manter nos noviciados e
comunidades princípios fundamentais de toda ascese cristã, sobretudo a obediência;
encorajar o desenvolvimento de escolas católicas, a imprensa da sã doutrina, as
associações de famílias cristãs; enfim, reprimir os que erram e reduzi-los ao silêncio. As
alocuções das quartas-feiras não podem substituir às encíclicas, os mandamentos, as
cartas para os bispos.
Sem dúvida estou sendo bem temerário ao me exprimir desta maneira! Mas é
com um amor ardente que componho estas linhas, amor pela glória de Deus,
amor por Jesus, amor por Maria, por sua Igreja, pelo Sucessor de Pedro, bispo
de Roma, Vigário de Jesus Cristo.
Dignai o Espírito Santo, a quem é dedicada nossa Congregação, vir em ajuda ao
Pastor da Igreja universal.
Que Vossa Eminência digne assegurar-se de meu mais respeitoso devotamento
em Nosso Senhor.
+ Marcel Lefebvre
Arcebispo titular de Sinada na Frígia,
Superior Geral da Congregação do Espírito Santo
Fonte: http://www.fsspx.com.br/
(Nota: os grifos são nossos.)
“Estou admirado de que tão depressa passeis daquele que vos chamou à graça de Cristo
para um Evangelho diferente. De fato, não há dois (evangelhos): há apenas pessoas que
semeiam a confusão entre vós e querem perturbar o Evangelho de Cristo. Mas, ainda que
alguém – nós ou um anjo baixado do céu – vos anunciasse um evangelho diferente do que
vos temos anunciado, que ele seja anátema. Repito aqui o que acabamos de dizer: se alguém
pregar doutrina diferente da que recebestes, seja ele excomungado! É, porventura, o favor
dos homens que eu procuro, ou o de Deus? Por acaso tenho interesse em agradar aos
homens? Se quisesse ainda agradar aos homens, não seria servo de Cristo.”
(Gl. 1, 6-10)
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