domingo, 7 de dezembro de 2014

QUE É A TRADIÇÃO?

"Se Eu não tivesse vindo, teriam desculpa, mas como Eu vim, eles não têm mais desculpa", disse Jesus (em João)
Não será dever de um católico julgar entre a fé que lhe ensinam hoje e a que foi ensinada durante vinte séculos de tradição da Igreja?

QUE É A TRADIÇÃO?

Parece-me que, com frequência, a palavra é imperfeitamente compreendida: comparam-na às tradições como existem nas profissões, nas famílias, na vida civil: o buquê fixado sobre a cumeeira da casa quando se coloca a última telha, o cordão que se corta para inaugurar um monumento, etc. Não é disto que eu falo; a tradição, não são os costumes legados pelo passado e conservados por fidelidade a este, mesmo na ausência de razões claras. A tradição se define como o depósito da fé transmitido pelo magistério de século em século. Este depósito é aquele que nos deu a Revelação, isto é, a palavra de Deus confiada aos Apóstolos e cuja transmissão é assegurada por seus sucessores.
Ora atualmente, se quer pôr todo o mundo em pesquisa “como se o Credo não nos tivesse sido dado, como se Nosso Senhor não tivesse vindo trazer a Verdade, uma vez por todas. Que se pretende encontrar com toda esta pesquisa? Os católicos a quem se quer impor ”reconsiderações”, após se lhes ter feito “esvaziar suas certezas”, devem lembrar-se do seguinte: o depósito da Revelação terminou no dia da morte do último Apóstolo. Acabou, não se pode mais nele tocar até a consumação dos séculos. A Revelação é irreformável. O concílio I do Vaticano relembrou-o explicitamente: “a doutrina de fé que Deus revelou não foi proposta às inteligências como uma invenção filosófica que elas tivessem que aperfeiçoar, mas foi confiada como um depósito divino à Esposa de Jesus Cristo (Igreja) para ser por Ela fielmente conservada e infalivelmente interpretada.”
Para que o Papa represente a Igreja e seja dela a imagem, é preciso que esteja unido a ela tanto no espaço como no tempo já que a Igreja é uma Tradição viva na sua essência. Na medida em que o Papa se afastar dessa Tradição estará se tornando cismático, terá rompido com a Igreja. Teólogos como São Belarmino, Caetano, o cardeal Journet e muitos outros estudaram essa eventualidade. Não se trata, pois, de uma coisa inconcebível.»
«A Igreja aceitaria doravante não ser mais a única religião verdadeira, a única via para a salvação eterna. Ela reconheceria como religiões-irmãs as outras religiões. Reconheceria como um direito concedido pela natureza da pessoa humana que esta pessoa é livre de escolher sua religião e que, portanto, a existência de um Estado católico seria inadmissível.»
«Se admitirmos este novo princípio, temos que mudar toda a doutrina da Igreja, seu culto, seu sacerdócio, suas instituições. Pois tudo, até então, na Igreja, manifestava que Ela era a única a possuir a Verdade, o Caminho e a Vida em Nosso Senhor Jesus Cristo que ela, a Igreja, é a única a deter em pessoa, na Santa Eucaristia, onde, Ele está presente, graças à continuação de seu Sacrifício. Logo é uma inversão total da Tradição e do ensino da Igreja que está se operando, depois do Concílio e pelo Concílio.»
«Como poderíamos nós, por obediência servil e cega, fazer o jogo desses cismáticos que nos pedem colaboração para seus empreendimentos de destruição da Igreja?»
«Eis porque estamos prontos e submissos para aceitar tudo o que for conforme à nossa fé católica, tal como foi ensinada durante dois mil anos mas recusamos tudo o que lhe é contrário.»
«Já ouvimos a objeção: "Então cabe a nós julgarmos a fé católica?" Mas não será dever de um católico julgar entre a fé que lhe ensinam hoje e a que foi ensinada e crida durante vinte séculos e que está escrita nos catecismos oficiais como o do Concílio de Trento, o de São Pio X e em todos os catecismos antes do Vaticano II? Como foi que agiram os verdadeiros fiéis diante das heresias? Preferiram dar o sangue a trair sua fé.»
«Por outro lado, parece-nos muito mais certo que a fé ensinada pela Igreja durante 20 séculos não pode conter erros do que seja certo que o Papa é verdadeiramente Papa. A heresia, o cisma, a excomunhão "ipso facto", a invalidade da eleição, tudo isso são causas eventuais que podem fazer com que um Papa não tenha sido jamais Papa ou não mais o seja. Nesse caso, evidentemente excepcional, a Igreja se encontraria numa situação semelhante àquela em que ela se acha quando morre um Soberano Pontífice.»
«Um grave problema, diante da consciência e da fé de todos os católicos desde o começo do pontificado de Paulo VI. Como é possível que um Papa, verdadeiro sucessor de Pedro, socorrido pela assistência do Espírito Santo, possa presidir a destruição da Igreja, a mais profunda e extensa da história dela, em tão pouco tempo e de um modo que nenhum heresiarca jamais conseguiu?»
«A essa pergunta será preciso responder um dia. Mas embora deixando o problema aos teólogos e aos historiadores somos constrangidos pela realidade a responder praticamente, seguindo o conselho de São Vicente de Lérins: "O que deverá fazer o cristão católico se alguma parcela da Igreja venha a se desligar da comunhão da fé universal? Que outro partido tomar senão preferir ao membro gangrenado e corrompido, a parte sã do organismo? E se um contágio ou uma epidemia arrisca envenenar não somente uma pequena parcela da Igreja mas ao mesmo tempo toda Igreja, então, o maior zelo deverá ser o de se unir à antiguidade que evidentemente não pode mais ser seduzida por nenhuma novidade falsificadora".»
Por Arcebispo Marcel Lefebvre

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