05.11.2013 -
Há 50 anos, eram raros os que se confessavam ateus e, em geral, não o manifestavam abertamente. Hoje, isso é mais comum, e são raros os que se confessam crentes com espontaneidade.
Os que viveram mais de 50 anos não se surpreendem tanto pelo fato da descrença ou do agnosticismo em si, mas se inquietam ao ver sua generalização e proximidade, ou seja, que sejam tantos e tão próximos da nossa vida os que afirmam não crer, não “precisar” de Deus ou não considerá-lo “relevante” no mundo.
É difícil hoje entender bem o que uma pessoa quer dizer quando afirma “eu não acredito em Deus“, ou “sou agnóstico”. Em geral, nem ela consegue explicar exatamente. Este é um fenômeno um tanto difuso, que obedece mais a um sentimento que se contagia do que a uma ideia bem fundamentada.
De qualquer maneira, as pesquisas e os fatos, como a relevância das crenças religiosas em determinados fenômenos sociais, demonstram que o fator religioso é atual. Mas o que significa esta atualidade do religioso?
No que diz respeito ao nosso mundo ocidental, “cristão” por tradição, há alguns que detectam um processo rumo à descrença real, ainda que às vezes motivada pela boa vontade.
Um representante da alta hierarquia da Igreja comentou, não sem certa ironia, em uma assembleia, que antigamente era mais comum ouvir a opinião de que se acreditava em Jesus, mas não na Igreja. Depois, dizia, ouvimos que Jesus Cristo, tal como aparece no Novo Testamento, não se sustentava, mas que era verossímil crer em Deus, como faz a maioria dos seres humanos.
Mais tarde, generalizou-se, inclusive na linguagem oficial e em ambientes culturais, a opinião de que não se pode falar de um único Deus, mas de todos os produzidos pelas diversas tradições religiosas, ou pelo menos de um só Deus, mas não definido e conhecido, e sim como um ser muito além de toda linguagem e conhecimento humanos, sobre quem todas as religiões chegariam a um consenso. Como consequência, o seguinte passo foi considerar melhor não falar de Deus, mas de “transcendência”. Mais ainda: melhor não falar de “transcendência”, mas de “espiritualidade”…
Seja como for, o fato é que hoje podemos falar de um mundo vazio de Deus. Há mais de 40 anos, uma cristã absolutamente comprometida no âmbito social, Madeleine Delbrêl, em seu livro “Nós, gente do povo”, lamentava este vazio:
“Um perigo maior se aproxima da Igreja, sem fazer barulho: o perigo de um tempo, de um mundo no qual Deus já não será negado, mas excluído, o qual será impensável (porque teremos mutilado o modo de conhecimento de Deus); desejaremos gritar seu nome, mas não poderemos lançar este grito, porque já não teremos um lugar onde colocar os pés. Esta atitude, seja agressiva, indiferente ou intolerante com relação a Deus, tem em todos os lugares um caráter comum: a rejeição de um Deus criador que situa o mundo em sua condição de criatura. O mundo parece esvaziar-se por dentro, em primeiro lugar de Deus, depois, do Filho de Deus, e depois, do que Ele comunica de divino à sua Igreja. Em geral, o que afunda por último é a superfície, e é por isso que tudo nos parece uma ilusão.”
Isso parecia uma profecia, mas hoje o que parecia ser ilusão se tornou realidade. Porém, este mundo continua tendo traços de Deus e não deixamos de amá-lo. A fé que salva continua sendo possível.
Por Agustín Cortés - Bispo espanhol.
Fonte: http://blog.comshalom.org/carmadelio
Fonte: http://blog.comshalom.org/carmadelio
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