sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Da eternidade do inferno.

Da eternidade do inferno.

Et ibunt hi in supplicium aeternum – “Estes irão para o suplício eterno” (Matth. 25, 46).

Sumário. A eternidade do inferno não é uma simples opinião, mas sim uma verdade de fé fundada no testemunho de Deus na Santa Escritura, na qual se diz repetidas vezes que os desgraçados pecadores, uma vez lançados naqueles abismos, serão atormentados de dia e de noite pelos séculos dos séculos. Se alguém por um dia de divertimento se deixasse condenar a trinta anos de prisão, tê-lo-íamos por louco. Que maior loucura não seria a nossa, se por um momento de vil prazer nos condenássemos a queimar no fogo para sempre? A ficar privados para sempre da posse do soberano bem, que é Deus?

I. Se o inferno não fosse eterno, deixaria de ser inferno. A pena que dura pouco, não é grande pena. Quando se rompe a um doente um abscesso, quando a outro se queima uma úlcera, a dor é viva, mas, como passa rapidamente, o tormento não é grande. Que sofrimento porém não seria, se aquela incisão, aquela operação por meio do fogo, continuasse por uma semana, por um mês inteiro? Quando o sofrimento é bastante prolongado, apesar de leve, como uma dor de olhos, uma dor de dentes, torna-se insuportável. – Mas para que falar de sofrimento? Mesmo uma comédia, uma música que se prolongasse muito ou durasse um dia inteiro, não se poderia aturar pelo grande fastio. Que será, pois, do inferno, onde não se trata de assistir à mesma comédia, de ouvir a mesma música, onde não se tem unicamente a sofrer uma dor de olhos ou de dentes, onde não se sente só o tormento de uma incisão ou de um ferro em brasa, mas onde estão reunidos todos os tormentos e todas as dores? E isto, por quanto tempo? Por toda a eternidade! Cruciabuntur die ac nocte in saecula saeculorum (1) – “Serão atormentados de dia e de noite pelos séculos dos séculos”.

Esta eternidade não é simples opinião, mas sim uma verdade de fé, atestada repetidas vezes por Deus nas Sagradas Escrituras. Só no capítulo 9 de São Marcos Jesus Cristo afirma até três vezes que o verme roedor e a consciência dos condenados nunca morrerá: Vermis eorum non moritur; até cinco vezes repete que o fogo que os abrasa, nunca será apagado: Et ignis eorum non extinguitur; e finalmente conclui dizendo: Omnis igne salietur (2) – “Será todo salgado pelo fogo”. Assim como o sal tem a propriedade de conservar as cosias, assim o fogo do inferno, ao mesmo tempo que atormenta os réprobos, produz neles o efeito de sal, conservando-lhes a vida. Desgraçados réprobos!

Que loucura não seria se por um dia de divertimento alguém se deixasse encerrar num calabouço vinte ou trinta anos? Se o inferno durasse cem anos – cem anos! Que digo? – se durasse somente dois ou três anos, seria já grande loucura condenar-se ao fogo esses dois ou três anos por um momento de vil prazer. Mas não se trata de trinta, nem de cem, nem de mil, nem de cem mil anos; trata-se da eternidade, trata-se de sofrer para sempre os mesmos tormentos, sem nunca esperar fim nem momento de descanso.

II. Tinham razão os santos para temer e gemer, enquanto estavam no mundo e, portanto, em risco de se perderem. O Bem-aventurado Isaías, posto que parasse os dias no deserto entre jejuns e penitências, exclamava chorando: Desgraçado de mim, que ainda não escapei ao perigo da condenação! Nondum a gehennae igne sum liber! Mas se os santos tremiam, nós, que somos pecadores, teremos a presunção de nos julgar seguros?

Ah, meu Deus! Se me tivésseis lançado no inferno, como tantas vezes mereci, e depois me tivésseis tirado d’ali pela vossa misericórdia, quanto Vos seria obrigado! Que vida santa não teria desde então principiado! Agora por uma misericórdia maior me preservastes de cair no inferno: que farei? Tornarei a ofender-Vos e a provocar a vossa indignação, afim de que me condeneis realmente a arder nessa prisão dos revoltosos contra Vós, onde já ardem tantas almas que cometeram menos pecados que eu? Ah! Meu Redentor, é o que eu fiz no passado; em lugar de aproveitar o tempo que me daveis para chorar os meus pecados, abusei dele para excitar a vossa ira. Agradeço a vossa infinita bondade o ter-me aturado tanto tempo. Se não fosse infinita, como me houvera sofrido?

Graças Vos dou por me haverdes esperado até aqui com tamanha paciência, e graças Vos dou sobretudo pela luz que me concedeis agora, luz que me deixa ver a minha demência e o agravo que Vos fiz, ultrajando-Vos com tantos pecados. Detesto-os, meu Jesus, e arrependo-me de todo o coração perdoai-me, em consideração à vossa Paixão e ajudai-me com a vossa graça, a não mais Vos ofender. Com razão devo temer que, depois de mais um pecado mortal, me abandoneis. – Ah, Senhor! Rogo-Vos que me ponhais sempre diante dos olhos este justo temor, em particular quando o demônio novamente me provocar a vos ofender. Amo-Vos, meu Deus, e não Vos quero mais perder; ajudai-me com a vossa graça. – Ajudai-me também vós, ó Virgem Santíssima, e fazei com que em minhas tentações sempre recorra a vós, afim de que nunca mais perca o meu Deus. Ó Maria, vós sois a minha esperança. (II 123.)

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1. Apoc. 20, 10.
2. Marc. 9, 48.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 66-68.)


FONTE: www.saopiov.org

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

O Grande Castigo iminente revelado no Terceiro Segredo de Fátima

O Grande Castigo iminente revelado no Terceiro Segredo de Fátima

I Parte

pelo Padre Paul Kramer, B.Ph., S.T.B., M. Div., S.T.L. (Cand.)

A Mensagem de Fátima, e particularmente o Terceiro Segredo, revela o Grande Castigo pelo qual Deus punirá todo o mundo pelos crimes da humanidade pecadora, se as pessoas não se arrependerem e deixarem de O ofender. Em 13 de Outubro de 1917, em Fátima, momentos antes do grande Milagre do Sol, a Santíssima Virgem disse: "É preciso que se emendem, que peçam perdão dos seus pecados. Não ofendam mais a Deus Nosso Senhor, que já está muito ofendido."
Nossa Senhora avisou-nos das gravíssimas consequências de este aviso não ser atendido. A maior consequência e o supremo castigo para as almas que não se arrependerem é o eterno castigo do inferno. Foi para evitar a condenação eterna das almas redimidas pelo Sangue do Nosso Divino Salvador Jesus Cristo que a Sua Santíssima Mãe veio a Fátima. Assim explicou na aparição de 13 de Julho de 1917:
"Vistes o inferno, para onde vão as almas dos pobres pecadores. Para as salvar, Deus quer estabelecer no mundo a devoção ao Meu Imaculado Coração. Se fizerem o que Eu vos disser, salvar-se-ão muitas almas e terão paz."
O pedido que a Santíssima Virgem fez, de que as pessoas "se emendassem e pedissem perdão dos seus pecados", não foi escutado. Nossa Senhora de Fátima disse à Beata Jacinta: "as guerras não são senão castigos pelos pecados do mundo."1 Foi revelado ao santo sacerdote Père Lamy que a Primeira Guerra Mundial era um castigo específico da "blasfêmia, da profanação do casamento e do trabalho no Domingo." Na aparição de 13 de Julho de 1917, Nossa Senhora anunciou: "A guerra vai acabar. Mas se não deixarem de ofender a Deus, no reinado de Pio XI começará outra pior."
Infelizmente, as pessoas não deixaram de ofender a Deus, e a guerra pior, a Segunda Guerra Mundial, foi desencadeada no papado de Pio XI.2
Nossa Senhora revelou à Irmã Lúcia o sinal que indicaria que o castigo estava iminente:
"Quando virdes uma noite alumiada por uma luz desconhecida, sabei que é o grande sinal que Deus vos dá de que vai punir o mundo de seus crimes, por meio da guerra, da fome e de perseguições à Igreja e ao Santo Padre."
Na noite de 25 de Janeiro de 1938, a Irmã Lúcia viu a ameaçadora luz vermelha que Nossa Senhora tinha dito que seria o grande sinal de que Deus iria "punir o mundo ... por meio da guerra, da fome e de perseguições à Igreja e ao Santo Padre". No dia seguinte, o estranho fenómeno da "noite alumiada" foi noticiado em jornais por toda a Europa e América do Norte.3 A Irmã Lúcia compreendeu que o castigo do mundo iria começar, e algumas semanas mais tarde, em Março de 1938, Hitler invadiu a Áustria e anexou-a à Alemanha, um acto que iniciou a escalada de acontecimentos que transformaram as várias agressões da Alemanha, Itália e Japão na Segunda Guerra Mundial.
A Segunda Guerra Mundial podia ter sido evitada se os pedidos de Nossa Senhora de Fátima tivessem sido atendidos. Ela já tinha prometido: "Se fizerem o que Eu vos disser, salvar-se-ão muitas almas e terão paz." Nossa Senhora sublinhou que a única maneira de alcançar a paz é obedecer aos Seus pedidos, quando Ela pediu que rezassem o Rosário todos os dias "em honra de Nossa Senhora do Rosário, para obter a paz no mundo ... porque só Ela lhes poderá valer."
Foi precisamente para evitar o castigo do mundo, "por meio da guerra, da fome e de perseguições à Igreja e ao Santo Padre", que Nossa Senhora de Fátima pediu a consagração da Rússia e a devoção dos Cinco Primeiros Sábados. As Suas palavras exactas foram: "Para o impedir, virei pedir a consagração da Rússia a Meu Imaculado Coração, e a Comunhão reparadora nos Primeiros Sábados." A promessa ligada a este pedido é: "Se fizerem o que Eu vos disser, salvar-se-ão muitas almas e terão paz."
É da maior importância ter presente que a Segunda Guerra Mundial foi apenas o começo dos castigos anunciados. Se as pessoas não se arrependerem e emendarem as suas vidas, seguir-se-ão castigos mais severos. Nossa Senhora anunciou em particular o castigo da Segunda Guerra Mundial quando disse: "A guerra vai acabar. Mas se não deixarem de ofender a Deus, no reinado de Pio XI começará outra pior." Este castigo já teve lugar.
O anunciado castigo do mundo "por meio da guerra, da fome e de perseguições à Igreja e ao Santo Padre" é um aviso profético muito mais geral, que só se cumpriu parcialmente. Se vier a concretizar-se ou não depende de os pedidos de Nossa Senhora serem ou não atendidos. O castigo está revelado na sua totalidade na terceira parte, ainda por publicar, do Segredo, embora esteja mencionado em termos gerais na segunda parte. O que Nossa Senhora disse sobre ele na segunda parte do Segredo é o seguinte:
"Se atenderem a Meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz; se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja. Os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas."
Foi em 13 de Junho de 1929, em Tuy, Espanha, que a Santíssima Virgem apareceu à Irmã Lúcia, cumprindo a Sua promessa de que viria "pedir a consagração da Rússia", a ser feita pelo Papa em união com todos os Bispos do mundo. As palavras de Nossa Senhora, pedindo a consagração, foram escritas pela Irmã Lúcia: "É chegado o momento em que Deus pede para o Santo Padre fazer, em união com todos os Bispos do mundo, a Consagração da Rússia ao Meu Imaculado Coração, prometendo salvá-la por este meio ..."4 Este acto solene de consagração da Rússia, a ser realizado pelo Papa e por todos os Bispos do mundo ao mesmo tempo, nunca foi feito. Nunca houve qualquer acto de consagração da Rússia (ou do mundo, ou nem mesmo do que quer que seja) feito pelo Papa e por todos os Bispos do mundo ao mesmo tempo. Nenhum dos actos de consagração levados a cabo por Pio XII, Paulo VI ou João Paulo II foram feitos por todos os Bispos do mundo ao mesmo tempo. Trata-se de um facto histórico claramente estabelecido de forma irrefutável — contra factum non est argumentum.5
Era vontade de Deus que o acto de consagração pedido fosse cumprido sem mais demoras. Em 21 de Janeiro de 1935, a Irmã Lúcia escreveu: "Há uns três anos, Nosso Senhor estava bastante descontente por não realizar o Seu pedido. Em uma carta, fi-lo saber ao Senhor Bispo... Intimamente, falando com Ele, parece-me que está disposto a usar de misericórdia com a pobre Rússia, como prometeu há 5 anos, e que Ele tanto deseja salvar." Em 19 de Agosto de 1931, Nosso Senhor Jesus Cristo apareceu à Irmã Lúcia com esta mensagem: "Participa aos Meus ministros que, dado seguirem o exemplo do Rei de França na demora em executar Meu mandato, tal como a ele aconteceu, assim o seguirão na aflição."6
Isto é um aviso muito rigoroso, dado pelo próprio Jesus Cristo, visto que o exemplo a que Ele se refere é a desobediência do Rei francês, que não chegou a consagrar a França ao Seu Sagrado Coração. Esse pedido foi feito directamente por Nosso Senhor Jesus Cristo. Foi revelado a Santa Margarida Maria, que o comunicou ao Rei Luís XIV. Nem Luís XIV nem Luís XV o cumpriram, e por fim, Luís XVI, já na prisão, tentou obedecer à ordem de Deus, mas não podia fazer o acto público e solene requerido; e em 1793 foi guilhotinado.
Nosso Senhor tornou inequivocamente claro que foi dado ao Papa um certo período de tempo para fazer a consagração da Rússia, passado o qual, se a consagração ainda não tiver sido devidamente feita, alguns dos pastores da Igreja pagarão com as suas vidas por esta omissão. Isto depreende-se claramente da visão do Terceiro Segredo, publicada em 26 de Junho de 2000. Naquela visão, o Papa é morto por um grupo de soldados, e outros prelados de altas dignidades são igualmente mortos.
O aparelho de Estado do Vaticano tentou interpretar a visão do ‘Bispo vestido de branco’ como uma previsão do atentado falhado contra a vida do Papa João Paulo II, em Maio de 1981. A revista The Fatima Crusader demonstrou amplamente que a interpretação da visão, publicada pelo Cardeal Ratzinger em 26 de Junho de 2000, é uma tentativa fraudulenta de colocar no passado a realização dos acontecimentos futuros relatados na visão. O motivo para esta interpretação fraudulenta é promover a ideia de que a consagração da Rússia já foi feita e, portanto, como disse o Arcebispo Tarcisio Bertone, "encerra um pedaço de história, marcado por trágicas veleidades humanas de poder e de iniquidade." Por outras palavras, o que Nossa Senhora pediu já foi feito, e portanto não temos necessidade de pensar mais nisso.
O Cardeal Sodano disse em 13 de Maio de 2000: "os acontecimentos a que faz referência a terceira parte do ‘Segredo’ de Fátima pareçam pertencer já ao passado..." A interpretação da visão dada por Sodano parece uma tentativa de enfiar uma cavilha quadrada num buraco redondo: explica de forma rudimentar a profecia de um acontecimento futuro, um Papa a ser morto por militares, isto é, por um grupo de soldados, em termos de um acontecimento passado, o atentado falhado contra a vida do Papa João Paulo II por apenas um pistoleiro civil. A interpretação de Sodano é claramente fraudulenta: o Cardeal Sodano alterou as palavras da profecia que se referem ao assassínio de um Papa, "prostrado de joelhos aos pés da grande Cruz, foi morto por um grupo de soldados," para "também ele... cai por terra como morto." Uma profecia do assassinio de um Papa no futuro transformou-se assim, por uma habilidade verbal, numa predição de um atentado falhado contra a vida do Papa João Paulo II em 1981.
No folheto intitulado A Mensagem de Fátima, o Cardeal Ratzinger apresenta o seu primeiro princípio para interpretar a visão: "Em primeiro lugar, devemos supor, como afirma o Cardeal Sodano, que: ...os acontecimentos a que faz referência a terceira parte do ‘Segredo’ de Fátima parecem pertencer já ao passado." Esta declaração é um logro deliberado: quando o Cardeal Ratzinger falou do ‘Terceiro Segredo’ na sua entrevista de 11 de Novembro de 1984 à revista Jesus, disse: "o conteúdo deste ‘Terceiro Segredo’ corresponde ao que é anunciado nas Sagradas Escrituras e que tem sido dito, muitas e muitas vezes, em várias outras aparições de Nossa Senhora ..."
É manifestamente evidente que estas palavras do Cardeal não se referiam ao atentado frustrado de há três anos atrás, que não estava anunciado nas Sagradas Escrituras nem previsto em muitas aparições marianas — nem se referiam especificamente à visão revelada em Junho de 2000. Pelo contrário, referiam-se a acontecimentos futuros preditos pela Santíssima Virgem, na "carta" de Janeiro de 1944 ao Bispo D. José Correia da Silva, "em que a Irmã Lúcia escreveu as palavras que Nossa Senhora confiou aos três pastorinhos, como Segredo, na Cova da Iria."7 Este é o ‘Terceiro Segredo’ que a Irmã Lúcia revelou em 2 de Setembro de 1952 ao emissário do Papa Pio XII, o Padre Schweigl, que explicou que o ‘Terceiro Segredo’ é "a continuação das palavras [de Nossa Senhora]: Em Portugal se conservará sempre o dogma da Fé etc."8 Este é que é o ‘Terceiro Segredo’ de que falou o Cardeal Ratzinger, dizendo que "o conteúdo deste ‘Terceiro Segredo’ corresponde ao que é anunciado nas Sagradas Escrituras e que tem sido dito, muitas e muitas vezes, em várias outras aparições de Nossa Senhora." Esta posição foi confirmada pelo sobrinho da Irmã Lúcia, o Padre José dos Santos Valinho, que apresentou claramente o seu ponto de vista em 14 de Fevereiro de 2003, no programa da TV italiana Enigma, segundo o qual a terceira parte do Segredo está estreitamente ligada à segunda parte. Diz respeito à Igreja: guerra, perseguição e a perda da fé. Haverá uma crise universal, tanto na Igreja como em todo o mundo.9 Isto corresponde às palavras da Santíssima Virgem na segunda parte do Segredo: "Os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas". Corresponde em especial à revelação de 13 de Julho de 1917, de que Deus ia "punir o mundo de seus crimes, por meio da guerra, da fome e de perseguições à Igreja e ao Santo Padre". O Padre Valinho também afirma claramente que a terceira parte do Segredo é a continuação da segunda parte, que termina com as palavras "em Portugal se conservará sempre o dogma da Fé, etc."... Eis as suas palavras exactas: "os três pontinhos (depois do etc.) indicam que ‘aqui está a terceira parte que ainda não foi revelada’".
Também é importante considerar que, a partir de um certo ponto, tal como o início de uma guerra mundial, os pastores da Igreja poderão estar fisicamente incapacitados de fazer a consagração, como sucedeu com Luís XVI, que tentou, sem sucesso, levar a cabo a consagração da França depois de já ser tarde demais para a salvar da revolução e do Reino do Terror. Segundo o que Nosso Senhor revelou à Irmã Lúcia, parece que o castigo do mundo mencionado na segunda parte do Segredo e ilustrado na visão da terceira parte dar-se-á antes de se fazer a consagração. O que Nosso Senhor disse à Irmã Lúcia é isto: "O Santo Padre! Ora muito pelo Santo Padre. Ele há-de fazê-la, mas será tarde."
O próprio Nosso Senhor Jesus Cristo explicou por que razão é tão necessário este acto de consagração. Numa carta datada de 18 de Maio de 1936, a Irmã Lúcia escreveu: "...Quanto à outra pergunta: Se será conveniente insistir para obter a consagração da Rússia ... Tenho falado a Nosso Senhor do assunto; e há pouco perguntava-Lhe porque não convertia a Rússia sem que Sua Santidade fizesse essa consagração. (Respondeu) ‘Porque Eu quero que toda a Minha Igreja reconheça essa consagração como um triunfo do Coração Imaculado de Maria, para depois estender o Seu culto e pôr, ao lado da devoção do Meu Divino Coração, a devoção deste Imaculado Coração... No entanto, o Imaculado Coração de Maria, há-de salvar a Rússia. Esta-Lhe confiada.’"
A finalidade suprema da consagração da Rússia não é a conversão da Rússia ou a paz mundial. A conversão da Rússia e a paz mundial são graças prometidas por Deus, a serem obtidas por meio da consagração, mas a finalidade suprema da consagração é salvar as almas do inferno, estabelecendo a devoção ao Imaculado Coração de Maria. Foi Nossa Senhora quem disse: "Para as salvar, Deus quer estabelecer no mundo a devoção ao Meu Imaculado Coração." Em 13 de Junho de 1917, a Santíssima Virgem disse que é Jesus Que quer estabelecer esta devoção: "Ele quer estabelecer no mundo a devoção a Meu Imaculado Coração. A quem a abraçar, prometo a salvação; e serão queridos de Deus estas almas, como flores postas por Mim a adornar o Seu trono." É para a salvação das almas que o Céu pede a consagração da Rússia. "A salvação das almas ... é sempre a lei suprema da Igreja." (Can. 1752) Os que se opõem ou impedem a consagração, sejam quais forem os seus motivos, colocam-se em oposição à lei suprema da Igreja e são, portanto, criminosos perante Deus.
As consequências da desobediência aos pedidos do Céu serão incalculáveis e catastróficas. Os que dizem que os pedidos de Nossa Senhora já foram atendidos e que a consagração da Rússia já foi feita perderam a noção da realidade. Navarro-Valls, porta-voz do Vaticano, mencionou em Setembro de 2002 o facto de que a Igreja Católica está actualmente a ser perseguida na Rússia. Nossa Senhora de Fátima avisou que a Rússia iria perseguir a Igreja se os Seus pedidos não fossem atendidos. Disse que "se atenderem a Meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz..."
Duzentos e cinquenta mil soldados americanos e um terço da Força Aérea britânica foram enviados para o Golfo Pérsico, em preparação para o ataque ao Iraque, e as forças armadas americanas estão a preparar-se para atacar também a Coreia do Norte e o Irão. Apesar disto, a Congregação para a Doutrina da Fé assegura-nos que "a decisão de Sua Santidade o Papa João Paulo II de tornar pública" a visão do ‘Bispo vestido de branco’, "encerra um pedaço de história, marcado por trágicas veleidades humanas de poder e de iniquidade."
Nossa Senhora de Fátima disse à Irmã Lúcia em Maio de 1952: "Participa ao Santo Padre que continuo à espera da Consagração da Rússia a Meu Imaculado Coração. Sem a Consagração, a Rússia não poderá converter-se, nem o mundo terá paz."10
Nosso Senhor disse que não converteria a Rússia sem que o Santo Padre fizesse a consagração (da Rússia), "Porque Eu quero que toda a Minha Igreja reconheça essa consagração como um triunfo do Coração Imaculado de Maria." Até hoje, não há sinal desse triunfo, ou dessa conversão, porque os pedidos de Nossa Senhora não foram cumpridos, e portanto o mundo está a caminhar para O Grande Castigo através do qual Deus "vai punir o mundo de seus crimes, por meio da guerra, da fome e de perseguições à Igreja e ao Santo Padre."

II PARTE

O Grande Castigo que é revelado no Terceiro Segredo de Fátima é apresentado concisamente pela Irmã Lúcia na carta de uma só página que dirigiu ao Bispo D. José Correia da Silva, contendo o ‘Terceiro Segredo’. O Segredo a que o Cardeal Ratzinger se referiu na entrevista à Jesus está nessa carta. Quando disse: "Sim, eu li-o", Ratzinger estava a referir-se a essa carta, "em que a Irmã Lúcia escreveu as palavras que Nossa Senhora confiou aos três pastorinhos, como Segredo, na Cova da Iria."11
Eram estas palavras de Nossa Senhora a que o Cardeal Ratzinger se referia, quando disse, na entrevista à Jesus, que o Terceiro Segredo se refere aos "perigos que ameaçam a Fé e a vida do Cristão, e, consequentemente, do mundo", acrescentando que "o conteúdo deste ‘Terceiro Segredo’ corresponde ao que é anunciado nas Sagradas Escrituras e que tem sido dito, muitas e muitas vezes, em várias outras aparições de Nossa Senhora ..." É examinando o que "tem sido dito, muitas e muitas vezes, em várias outras aparições de Nossa Senhora" que descobriremos os "perigos que ameaçam a Fé e a vida do Cristão, e, consequentemente, do mundo" que foram "anunciados nas Sagradas Escrituras" e preditos nas profecias.
Em 13 de Outubro de 1973, a Santíssima Virgem Maria apareceu em Akita, no Japão, à Irmã Agnes Sasagawa, e revelou: "Se os homens não se arrependerem ... O Pai fará cair um terrível castigo sobre toda a humanidade. Será um castigo maior do que o dilúvio, um castigo como ninguém viu antes. Cairá fogo do céu e destruirá uma grande parte da humanidade".
A Beata Anna Maria Taigi (†1837) escreveu o seguinte sobre o castigo que se aproxima:
"Deus ordenará dois castigos: Um, na forma de guerras, revoluções e outros males, terá a sua origem na terra; o outro será enviado do Céu. Virá por sobre toda a terra uma escuridão intensa, que durará três dias e três noites (Joel 2:31)12 ... o ar ficará carregado de pestilência, que levará sobretudo, mas não exclusivamente, os inimigos da religião ..."
O primeiro castigo será ao mesmo tempo físico e espiritual: guerras e revoluções, etc. serão a substância do castigo físico; "várias nações serão aniquiladas"; e as "perseguições à Igreja e ao Santo Padre" serão o castigo espiritual: "os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer".
Em 1945, pouco tempo depois do fim da Segunda Guerra Mundial, o Papa Pio XII disse na sua mensagem de Natal aos Cardeais: "O Mundo está à beira de um terrível abismo ... Os homens devem preparar-se para um sofrimento tal como a humanidade nunca viu." Haverá uma grande guerra mundial, muito mais destruidora do que as duas primeiras guerras. A Irmã Elena Aiello (†1961), de grande nomeada pelas suas profecias, ouviu de Nossa Senhora:
"O Meu Coração está triste por tantos sofrimentos num mundo que se aproxima da ruína ... A ira de Deus está próxima. Em breve o mundo será atormentado por grandes calamidades, revoluções sangrentas, horríveis furacões e inundações de rios e dos mares ... o mundo será subvertido numa nova e mais terrível guerra. Armas excepcionalmente mortais destruirão povos e nações. Os ditadores da terra, espécimes infernais, demolirão as Igrejas e profanarão a Sagrada Eucaristia, e destruirão as coisas que nos são mais queridas. Nesta guerra ímpia, muito do que foi construído pelas mãos do homem serão destruídas ...
"Outra guerra terrível virá do leste para o oeste. A Rússia, com os seus exércitos secretos, lutará com a América; devastará a Europa. O rio Reno transbordará de cadáveres e de sangue. A Itália, também, será agitada por uma grande revolução, e o Papa sofrerá terrivelmente ...
"A Rússia marchará sobre todas as nações da Europa, em especial a Itália, e hasteará a sua bandeira sobre a cúpula de S. Pedro. A Itália será afligida severamente por uma grande revolução, e Roma será purificada dos seus muitos pecados, especialmente os da impureza ..."
Na aparição de Nossa Senhora do Bom Sucesso, que ocorreu em 2 de Fevereiro de 1634, a Mãe de Deus revelou à Madre Maria Ana de Jesus Torres:
"Haverá uma guerra terrível, em que correrá o sangue de sacerdotes e de religiosos ... o mal parecerá ter triunfado." O mesmo foi predito pela Irmã Rose Asdente de Taggia (†1847): "Haverá uma grande confusão de povo contra povo, e nações contra nações. Os russos," explicou, "virão fazer guerra à Itália ... Padres e religiosos serão chacinados, e a terra, especialmente na Itália, será regada com o seu sangue."
Recordemos uma profecia escrita há séculos numa pedra tumular inglesa: "Quando os quadros parecerem vivos, com movimentos livres, quando os barcos nadarem como peixes pelo fundo do mar, quando os homens voarem pelo céu, superando os pássaros, então metade do mundo irá perecer, atolado em sangue." Parece, pois, que a cidade semi-destruída na visão de Fátima publicada em 26 de Junho de 2000 representa a destruição de metade do mundo: metade do género humano, mais de três mil milhões (3,000,000,000) de seres humanos morrerão no castigo, como diz a profecia da pedra tumular. A Irmã Lúcia referiu-se a este tema em 26 de Dezembro de 1957, quando disse ao Padre Fuentes: "Diga-lhes, Senhor Padre, que a Santíssima Virgem repetidas vezes, tanto aos meus primos Francisco e Jacinta como a mim, nos disse que muitas nações desaparecerão da face da terra, que a Rússia seria o instrumento do castigo do Céu para todo o mundo, se antes não alcançássemos a conversão dessa pobre nação."
Parece que o mundo está hoje, de facto, "à beira de um terrível abismo". As revelações proféticas feitas à Irmã Elena Aiello confirmam as profecias anteriores de S. João Bosco, da Beata Anna Maria Taigi e de outros, segundo as quais iria haver uma grande guerra contra as nações ocidentais, feita pela Rússia, pela China e pelas nações islâmicas. A maioria dos americanos não faz ideia de como a situação geopolítica é perigosa. Engoliram por completo a ideia de que os Estados Unidos são a única superpotência mundial, e portanto acreditam que os Estados Unidos podem impor a sua vontade onde quiserem.
Na realidade, só há uma superpotência militar no mundo, que é a Rússia. "A Rússia," explica Donald McAlvany, "(a ‘antiga’ União Soviética) ainda possui a maior máquina militar do mundo; o maior arsenal de mísseis nucleares ... o maior arsenal de tanques, veículos blindados, submarinos nucleares, mísseis intercontinentais (ICBM) e mísseis lançados de submarinos (SLBM), e de aviões militares do mundo."13
Conquistar todo o mundo continua a ser a intenção da Rússia Soviética. Num discurso feito na década de 1930 à Escola Lénine de Guerra Política, em Moscovo, Dimitri Manuilski declarou: "A guerra total entre o comunismo e o capitalismo é inevitável. Mas hoje somos demasiado fracos para atacar. A nossa vez chegará daqui a 30 - 40 anos. Mas primeiro devemos fazer adormecer as nações capitalistas com as maiores concessões de paz e desarmamento conhecidas na história. E então, quando abaixarem as defesas, esmagá-las-emos com o nosso punho fechado."
A Rússia Soviética sempre aderiu de forma inabalável a esta política, desde então até ao presente. Em Novembro de 1987, o Presidente soviético Mikhail Gorbachev afirmou, num discurso ao Politburo: "Senhores, Camaradas, não se preocupem com tudo o que ouvirem sobre glasnost e perestroika e democracia nos próximos anos. Tudo isso é sobretudo para consumo externo. Não haverá mudanças internas significativas na União Soviética, a não ser para fins cosméticos. O nosso fim é desarmar os americanos e deixá-los adormecer."
Os chefes militares soviéticos são discípulos de Sun Tsu, autor da Arte da Guerra, que escreveu em 500 A.C.: "Avançamos retirando." A retirada foi o desmantelamento do estado estalinista, ineficiente e burocrático, a União Soviética, restruturando-o na forma do estado leninista actual, a Rússia Soviética. No número do Inverno de 1993 da revista The Fatima Crusader, escrevi:
A Europa está a afastar-se do equilíbrio de poderes, surgido no após-guerra, entre o bloco NATO-CEE e o bloco do Pacto de Varsóvia-COMECON. Gorbachev está a promover a dissolução dos blocos e o reordenamento da Europa numa só unidade. Uma Europa unida e neutra será uma aglomeração de pequenos estados dominados pelo gigante soviético. Com os seus vastos recursos, população e armas, a União Soviética será facilmente o senhor de toda a Europa. Não me surpreende que o novo slogan na Rússia seja "dominar da Sibéria à Ibéria".14
Os Soviéticos cumpriram o seu programa de dissolução dos blocos e do reordenamento da Europa numa só unidade, com a entrada da Rússia na aliança da NATO, com o estatuto de participante. Isto foi dito muito abertamente pelo Presidente soviético Vladimir Putin, quando afirmou em Roma em 28 de Maio de 2002, sobre a NATO: "havemos de nos chamar ‘a Casa dos Sovietes’." Putin conseguiu o que Brezhnev tinha promovido com a détente. Brezhnev promoveu a "détente" pela mesma razão de conquista que Manuilski tinha anunciado nos anos 30. Sabe-se que Leonid Brezhnev, falando confidencialmente a um grupo de membros influentes do Partido Comunista, disse em 1972: "Confiem em nós, camaradas, porque por volta de 1985, em consequência do que já estamos a conseguir com a détente, teremos alcançado a maior parte dos nossos objectivos na Europa Ocidental. Teremos consolidado a nossa posição ... E a mudança decisiva na correlação de forças será tal que, chegados a 1985, poderemos exercer a nossa vontade onde quer que precisarmos de o fazer..."
Demorou mais tempo do que Brezhnev tinha calculado para este plano se tornar realidade, mas a fidelidade constante dos dirigentes da Rússia Soviética ao programa anunciado por Manuilski colocou-os numa posição em que podem usar do seu poder onde quer que queiram. É sua intenção conquistar os Estados Unidos por meio de um plano militar conjunto russo-chinês. Em Fevereiro de 2002, Donald McAlvany anotou: "O plano para uma campanha militar conjunta contra a América, levada a cabo pela Rússia e pela China, foi concebido há muitos anos, e foi-me descrito em 1999 pelo desertor de maior patente da Direcção Central de Informações do Estado Maior General russo, o Coronel Stanislav Lunev."15
"Sobre a existência de um plano militar conjunto russo-chinês," continua McAlvany, "Lunev disse que, na sua última visita a Moscovo, antes da sua deserção de 1992, o Estado-maior General russo ainda estava incumbido de combater e vencer uma futura guerra nuclear contra a América. ‘O plano da guerra nuclear ainda está válido,’ disseram-lhe. Mas haveria algumas mudanças. As tropas russas já não seriam responsáveis pela invasão subsequente dos 48 Estados da metrópole americana. As forças russas encarregar-se-iam de ocupar ‘o Alaska e parte do Canadá.’ Os chineses seriam responsáveis pela ocupação dos 48 Estados."
A força de mísseis nucleares da Rússia Soviética e o imenso potencial humano da China Vermelha uniram-se num só punho fechado que forma o coração do Novo Eixo, a que também se poderia chamar Eixo Moscovo-Pequim. Richard Maybury inventou a expressão Novo Eixo em 1996. Não se limita à Rússia e à China, que assinaram o Tratado de Amizade Chinês-Russo em Julho de 2001 e afirmaram claramente os seus interesses estratégicos conjuntos contra os Estados Unidos, mas também inclui muitas outras nações que entraram numa aliança secreta contra os Estados Unidos e os seus aliados da NATO. Maybury explica no número de Fevereiro de 2003 do Early Warning Report que "o grupo consiste de, pelo menos, 12 membros," entre eles o Irão, o Iraque, a Coreia do Norte, a Síria, a Líbia, Cuba, etc.
O Governo dos Estados Unidos está ao corrente da existência do Novo Eixo: Em 10 de Outubro de 2002, o Vice-Secretário da Defesa, Paul Wolfowitz, disse que "A coisa que nos surgiu da Comissão Rumsfeld, a maior surpresa, foi compreender de que maneira estes agentes malignos (os estados do Novo Eixo) estavam a ajudar-se tanto uns aos outros, e além disso a quantidade de ajuda que vinha da Rússia e da China."
O Novo Eixo ultrapassa em muito o poder de armamentos e pessoal dos Estados Unidos. É intenção do Novo Eixo envolver os Estados Unidos em múltiplas guerras com os membros menos importantes do Eixo: primeiro no Afeganistão, depois no Iraque, em seguida talvez no Irão e na Coreia, e depois também, possivelmente, com a China por causa de Taiwan. Querem enfraquecer as forças armadas americanas, fazendo com que se espalhem por uma grande área e tenham falta de pessoal, e então atacarão com uma Blitzkrieg (guerra-relâmpago) enorme contra as nações europeias e a América do Norte. Isto será apenas o começo do Grande Castigo.
"Porque nação levantar-se-á contra nação e reino contra reino, e haverá terramotos em diversos lugares, e fomes. Estas coisas são o princípio dos sofrimentos." (Mark 13:8)
Continua...
Notas
  1. Era um Senhora mais brilhante que o Sol; Pe. João de Marchi, 1996, Torres Novas, Portugal, p. 268.


  2. Algumas pessoas, tentando desacreditar a Mensagem de Fátima, sugeriram que a guerra começou com a invasão da Polónia em 1 de Setembro de 1939, durante o papado de Pio XII, mas isto é incorrecto. A verdade éque o conflito começou entre o exército japonês na Manchúria e as forças chinesas em 7 de Julho de 1937, na Ponte Marco Polo, junto a Pequim (Beijing). Os japoneses aproveitaram este incidente como pretexto para invadir o norte da China, de onde passaram ao leste e ao sul da China. A guerra só terminou quando o exército japonês na Manchúria (o Exército de Kwantung) se rendeu às tropas soviéticas, que estavam em guerra com o Japão apenas 5 dias, em Agosto de 1945, depois do lançamento das bombas atómicas.


  3. Em 1971, o meu professor de Filosofia, Padre Robert Schubert, Ph.D., mostrou-me a sua colecção de recortes de jornais sobre a ‘luz desconhecida’. Houve cidades em que foram enviados carros de bombeiros para os arredores, pensando que havia um grande incêndio, mas tratava-se apenas da luz estranha de que falou Nossa Senhora. Houve quem dissesse, sem qualquer fundamento, que a ‘luz desconhecida’ era uma aurora boreal. Isto é claramente absurdo, porque não se assemelhava de forma alguma a uma manifestação de uma aurora boreal.


  4. Frére Michel de la Sainte Trinité, The Whole Truth About Fátima; Buffalo, Fort Erie, 1989, vol. II, p. 555. Estas palavras foram escritas pela Irmã Lúcia no seu diário.


  5. Os que dizem que a consagração já foi feita só apresentam os argumentos mais obtusos e de um simplismo pouco engenhoso, que resistem à lógica, assim como as provas mais fracas e sem credibilidade, como postais e cartas de autenticidade mais que duvidosa, e relatórios anedotais baseados em rumores e boatos segundo os quais o Papa, ou a Irmã Lúcia, teriam dito que "a consagração estava feita." Demonstrámos à saciedade, em muitos artigos publicados anteriormente na revista The Fatima Crusader (disponíveis em www.fatima.org), que a consagração da Rússia ainda não foi feita. Apresentámos provas indisputáveis, que não admitem uma oposição legítima, que estabelecem o facto irrespondível de que Nossa Senhora, como o Papa João Paulo II admitiu publicamente em 25 de Março de 1984, "ainda espera" o acto de consagração que pedira.


  6. Pe. Joaquín María Alonso, Fátima ante la esfinge, Madrid, 1917, p. 117.


  7. Comunicado à imprensa do Vaticano para a agência UPI em Fevereiro de 1960.


  8. Frère Michel de la Sainte Trinité The Whole Truth About Fátima, Vol. III, Imaculado Coração Publications, Fort Erie, 1990 p. 710.


  9. "crisi di tipo universale nella chiesa e nell’umanità."


  10. Cf. Il Pellegrinaggio Delle Meraviglie, p. 440. (publicado com o beneplácito dos Bispos Católicos italianos).


  11. Comunicado à imprensa do Vaticano para a agência UPI em Fevereiro de 1960.


  12. "O Sol escurecer-se-á, e a Lua tornar-se-á em sangue: antes que venha o grande e terrível dia do Senhor."


  13. The McAlvany Intelligence Advisor; Relatório Especial.


  14. The Fatima Crusader, Nº 43, p. 17.


  15. The McAlvany Intelligence Advisor, Fevereiro de 2002, p. 7.
Fonte: www.fatima.org




terça-feira, 20 de agosto de 2013

O Segredo alertava contra


 O Segredo alertava contra

O Concílio Vaticano II e a Nova Missa

Entrevista exclusiva do The Fatima Crusader

com o Padre Paul Kramer

Pergunta: Quem é o Cardeal Ottaviani, e que disse ele sobre o Terceiro Segredo de Fátima?

[Padre Kramer] O Cardeal Alfredo Ottaviani era Prefeito do Santo Ofício, e naquele tempo o Santo Ofício era o discastério mais importante da Cúria Romana. E ele era quem se pronunciava sobre a ortodoxia. E tinha também jurisdição final sobre a aprovaçăo ou desaprovação das aparições. Em declarações que fez no Antonianum em 1967, disse que o Terceiro Segredo de Fátima estava escrito numa só folha de papel.

Pergunta: Quem é o Cardeal Ciappi, e que disse ele sobre o Terceiro Segredo?

[Padre Kramer] O Cardeal Mario Luigi Ciappi era um sacerdote dominicano que fora elevado a Cardeal pelo Papa Paulo VI. Foi Teólogo Papal nos pontificados de Paulo VI e João Paulo I, e na fase inicial do Papa João Paulo II. Numa carta ao Professor Baumgartner, o Cardeal Ciappi disse que no Terceiro Segredo se revelava, entre outras coisas, que a grande apostasia na Igreja começará pelo cimo.

Pergunta: O Cardeal Ciappi estaria a dizer a verdade? “Apostasia” năo será uma palavra forte demais?

[Padre Kramer] Sei que algumas pessoas tęm alguma dificuldade em aceitar a ideia de que poderá haver uma apostasia na Igreja, quanto mais uma grande apostasia na Igreja. Há pessoas que pensam que a palavra é muito forte.

Todavia, não era forte demais para S. Paulo, que a usou, porque foi ele que predisse que, antes da vinda do homem do pecado, o Anticristo, haveria uma grande separação, uma grande apostasia.

Portanto, năo é de admirar que Nossa Senhora de Fátima nos tenha alertado contra esta apostasia na Igreja, porque se trata de um ensinamento já inscrito nas Sagradas Escrituras pelo grande Apóstolo S. Paulo.

Pergunta: Como responde a quem diz que Nossa Senhora nunca afirmaria que a própria Igreja, Esposa de Cristo sem mácula, entraria num período de apostasia?

[Padre Kramer] A quem tiver dificuldades com esta ideia, que a Igreja, Esposa de Cristo, poderia entrar num período de apostasia, respondo que Nosso Senhor Jesus Cristo disse: “Eis que vos disse todas estas coisas antecipadamente.” Como poderemos questionar a palavra de Deus? O sofrimento a que a Igreja, como Corpo Místico de Cristo que é, se deve sujeitar é descrito

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Profeticamente no Livro das Lamentações. É descrito mais uma vez no Livro do Profeta Daniel, e no Apocalipse, onde vemos que haverá uma grande apostasia e uma grande perseguiçăo dos restantes fiéis, e que Deus os conservará na sua Fé, de modo a que os eleitos se conservem.

Pergunta: Vê uma ligação entre o Terceiro Segredo de Fátima e a introdução da Nova Missa?

[Padre Kramer] A Irmã Lúcia de Fátima, ao referir-se ŕ Mensagem de Fátima, disse que haveria uma desorientação diabólica na Igreja. E não há nada que possa fazer com que tal aconteça como uma revolução litúrgica que introduza princípios estranhos numa liturgia aparentemente católica.

De facto, há mais substância na questão de uma desorientação diabólica. Estou a referir-me ŕ parte do Terceiro Segredo de Fátima que ainda năo foi revelada. Sei que isto é um facto, porque falei pessoalmente com um alemão, teólogo e Reitor de um seminário, que é amigo pessoal de longa data do Papa Bento XVI.

Quando o Papa Bento XVI ainda era o Cardeal Ratzinger, revelou a esse seu amigo, por volta de 1990, que, no Terceiro Segredo de Fátima, Nossa Senhora avisava que năo se mudasse a liturgia: literalmente, que năo se misturassem elementos estranhos na liturgia católica.

Ora bem, isto foi exatamente o que aconteceu com a Nova Missa do Papa Paulo VI. Elementos de Protestantismo foram introduzidos e misturados numa estrutura católica, tanto no simbolismo como nas palavras da liturgia, a tal ponto que os fabricantes do novo Rito declararam abertamente que já não era o Rito Romano, mas uma nova criação.

O Padre Joseph Gelineau era o homem de confiança do Arcebispo Annibale Bugnini, que foi o arquiteto do novo rito da Missa. Tanto o Padre Gelineau como o Arcebispo Bugnini disse claramente que a Missa do Novus Ordo era uma criação nova; que o rito antigo da Missa, o Rito Romano, tinha sido destruído. O Papa Paulo VI anunciou em Novembro de 1969 que o seu rito era um rito novo da Missa.

Portanto, não se pode dizer que a nova liturgia — a liturgia do Novus Ordo — é basicamente uma revisão e uma continuação do Rito Romano. Não. É uma quebra na tradição litúrgica católica. 1

Ora Nossa Senhora de Fátima avisara expressamente no Terceiro Segredo que năo se fizesse este tipo de alterações ŕ liturgia. Mas, apesar disso, o Papa Paulo VI avançou com estas alterações.

Nossa Senhora avisou também que haveria um Concílio mau na Igreja, que causaria grande escândalo. E, é claro, foram os documentos do Vaticano II — a Constituição sobre a Liturgia — que deram o ímpeto ao Papa Paulo VI para reformar a liturgia de forma tăo desastrosa que causou uma tal perda de fé e uma confusão na Igreja.

Temos, portanto, o próprio Cardeal Ratzinger a dizer a um amigo  pessoal  e íntimo que estes avisos foram dados por Nossa Senhora no Terceiro Segredo de Fátima, para que não se alterasse a Missa, precisamente da maneira como o Papa Paulo VI a alterou.

Depois de isto ter acontecido, o teólogo alemão a quem me referi voltou para o país da América do Sul onde era Reitor de um seminário, e explicou a um jovem padre o que o Cardeal Ratzinger lhe tinha contado. E precisamente quando estava a dizer que Nossa Senhora avisara para não mudarem a

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Missa, e que haveria um Concílio mau na Igreja, ambos viram uma pluma de fumo a sair do chão. Ora o chão era de mármore, e o fenómeno não podia ser natural. O jovem padre e o velho Reitor alemão ficaram tão impressionados que fizeram um relatório e enviaram-no ao Cardeal Ratzinger.

O Padre Paul Kramer fazendo a sua alocução na Conferência de Embaixadores do Fatima Center, realizada em Los Angeles, Califórnia.

Em 26 de Junho de 2000, o Cardeal Ratzinger divulgou ao mundo o documento [sobre o Terceiro Segredo] que incluía a visão de um “Bispo vestido de branco”, dizendo que todo o Segredo estava contido neste documento. Coisa que só pode considerar-se assim se dissermos que ele usou de reserva mental; que o que foi explicado pelas palavras de Nossa Senhora estava já implicitamente contido, de forma simbólica, na visăo.

O idoso sacerdote alemão, amigo pessoal de longa data de, Ratzinger, reparou no facto de que, quando esta visão do Terceiro Segredo foi publicada, năo continha aquelas coisas, aqueles elementos do Terceiro Segredo que o Cardeal Ratzinger lhe tinha revelado, quase dez anos antes. O sacerdote alemão — Padre Döllinger — disse-me que a sua pergunta estava a arder-lhe no cérebro no dia em que concelebrou com o Cardeal Ratzinger. O Padre Döllinger disse-me: “Confrontei o Cardeal Ratzinger, cara a cara.” E, é claro, perguntou ao Cardeal Ratzinger: “Como é que isto pode ser todo o Terceiro Segredo? Recordas-te do que me disseste?

O Cardeal Ratzinger viu-se encurralado. Não sabia o que havia de dizer, e balbuciou ao seu amigo em alemão: “Wirklich da ist noch etwas”, que quer dizer “realmente há ali mais qualquer coisa,” querendo dizer que havia mais alguma coisa no Terceiro Segredo. O Cardeal disse-o muito claramente.

Pergunta: É uma história espantosa. O Padre Döllinger será uma testemunha fidedigna?

[Padre Kramer] Posso dizer isto: estamos a falar de um padre idoso, amigo  pessoal de longa data do Papa Bento XVI, um homem que conheceu pessoalmente, e durante muito tempo, S. Pio de Pietrelcina [o Padre Pio]. De facto, disse-me que se tinha ido confessar 58 vezes ao Padre Pio. É um

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Homem que foi, durante muitos anos, Reitor de um seminário na América do Sul; um homem que é altamente considerado, que tem uma grande reputação na Igreja.

Acrescentaria que, na diocese onde ele trabalha o que eu disse sobre o Terceiro Segredo, o que o Cardeal Ratzinger lhe revelou, era do conhecimento geral entre os jovens padres que eram seminaristas e diáconos na altura em que este homem era Reitor. Todos conhecem a história que o Cardeal Ratzinger lhe contou.

Como já mencionei, até compilaram um dossiê e enviaram-no ao Cardeal Ratzinger. Vê-se que é um homem de grande credibilidade, digno de crédito, um homem de grande seriedade, que não tem o costume de inventar histórias fabulosas, nem de exagerar a sua própria importância. Este homem não precisa de tais coisas; é da maior credibilidade.

Nota:

1. Para uma explicação mais detalhada, ver o livro do Padre Kramer The Suicide of Altering the Faith in the Liturgy (O suicídio de alterar a Fé na liturgia) (traduçăo portuguesa em estudo). Disponível através de The Fatima Crusader por US$9.95. Para o encomendar, veja as nossas informações de contato na página 63.

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Santa Margarida Clitherow, a “Pérola de York”



Vidas de Santos
 
Santa Margarida Clitherow, a “Pérola de York”
Mãe de família, católica destemida e mártir, brilhou pela fidelidade à verdadeira Igreja e pelo destemor com que enfrentou seus inimigos

Pode-se afirmar que não existe ódio maior do que aquele que se insurge contra a verdade religiosa. Temos exemplo disso no requinte de crueldade com que foram tratados os primeiros cristãos. E também no sofrimento dos católicos durante a pseudo Reforma Inglesa nos séculos XVI e XVII. Um desses mártires foi Santa Margarida Clitherow. Primeira mulher a ser martirizada nessa época, ela foi esmagada sob um peso de cerca de 700 quilos, por não querer renegar a verdadeira fé católica e por albergar sacerdotes católicos.


A “Ilha dos Santos” sob tormenta
A Inglaterra foi outrora chamada a Ilha dos Santos. Entretanto, desde a Idade Média, seus reis se tornaram em geral prepotentes no tocante aos direitos da Igreja. Isso levou, por exemplo, ao martírio de São Tomás Becket (1170). Posteriormente, em 1531, Henrique VIII rompeu com o Papa por este negar-se a anular seu legítimo casamento com Catarina de Aragão. O lúbrico rei declarou-se “Protetor e Cabeça Suprema da Igreja da Inglaterra”. Assim nasceu o anglicanismo.
Quem não concordasse com seu divórcio e a adoção desse título, ele mandava decapitar, como sucedeu com São Tomás Morus e São João Fisher, em 1535. Por igual motivo ordenou a execução de alguns monges cartuxos e franciscanos. A partir de então, por circunstâncias diversas, foi-se dando a gradual protestantização do que restara de católico na religião anglicana. E o cerco aos católicos foi se tornando cada vez mais estreito, sendo vários deles martirizados.
Em 1558, a ímpia Elisabeth I sucedeu a seu pai no trono. Ela não só seguiu a funesta política de Henrique VIII, mas radicalizou-a cada vez mais. Assim, foi necessário aos católicos fiéis, principalmente aos membros do clero, ocultarem-se para praticar a Religião verdadeira, sob a ameaça constante de prisão e morte. A Santa Missa foi proibida, e a população obrigada a participar dos “serviços” nas igrejas anglicanas.


Radical conversão à verdadeira fé
Nesse contexto, em York, pelo ano de 1556, nasceu Margarida, filha de Tomás Middleton, um bem-sucedido comerciante de cera e comissário da cidade. Em 1571 ela se casou com João Clitherow, fazendeiro e açougueiro abastado, que exercera e exerceria ainda vários cargos públicos em York. Tornado um de seus mais ricos cidadãos, ele foi autorizado a usar o Sir antes do nome. Margarida o ajudava no açougue, sendo muito querida dos clientes por causa de sua honestidade e simpatia.
A família de Tomás Middleton não opusera resistência à nova religião e à rainha como cabeça da “igreja”. Por isso Margarida foi educada no anglicanismo.
Apesar de não saber ler nem escrever — uma das consequências da perseguição foi a supressão das ordens religiosas e do sistema educacional inglês —, Margarida tinha boa inteligência e muita perspicácia. Analisando a religião na qual se educou, “não encontrou substância, verdade nem consolo cristão nos ministros da nova igreja, nem em sua doutrina; ao inteirar-se de que muitos sacerdotes e leigos sofriam ao defender a antiga fé católica” – comenta seu confessor e biógrafo, Pe. João Mush1  – Margarida quis instruir-se nela, convertendo-se três anos depois de casada.
A nova convertida entregou-se com ardor à prática da Religião católica. Rezava longamente, confessava-se com frequência, e quando algum padre celebrava a Missa secretamente em alguma casa católica, ela a assistia e comungava.
Mas o ardor de Margarida não se limitava a isso: ela se dedicou ao apostolado, procurando confirmar na fé os católicos perseguidos e tentando reconduzir ao seio da Igreja os que dela haviam se afastado por fraqueza.
João Clitherow, que por comodidade seguia a nova religião, dava entretanto toda a liberdade à esposa. Dizia encontrar nela somente dois defeitos: jejuava muito e não o acompanhava à igreja anglicana, o que lhe mereceu algumas multas. Quando a esposa começou a albergar em sua residência padres proscritos, ele preferiu ignorar o fato, para ficar em paz com sua consciência e não ter que delatar a esposa.
O casal Clitherow teve três filhos: Henrique, Ana e William, nascido na prisão. Com licença do marido, Margarida criou-os na Religião católica. Como não havia feito estudos, contratou um tutor católico para instruí-los. Com o tempo, enviou o filho mais velho ao seminário de Douai, na França. Como isso era considerado crime, ela foi novamente presa. Depois de sua morte, os filhos perseveraram na fé: os rapazes se tornaram sacerdotes e a moça, religiosa.


Conversão considerada como traição
A situação, porém, piorava gradativamente para os católicos fiéis. Em 1581, o governo da cruel rainha anglicana promulgou os Decretos de Persuasãodeclarando a conversão de alguém à fé católica crime de alta traição. O Decreto restringiu em grande medida a ação de Margarida. Ela foi logo considerada como suspeita e presa várias vezes, uma delas por dois anos. A heróica católica aproveitava a reclusão para fazer verdadeiros retiros espirituais, nos quais sua alma se unia cada vez mais a Deus. Durante a prisão passou a jejuar quatro dias por semana, prática que depois continuou a seguir. Foi também na prisão que, à força de perseverança, conseguiu aprender a ler e escrever.
Margarida havia transformado um quarto de sua casa em esconderijo para padres em caso de perseguição. Alugou também, com o mesmo fim, outra casa para a eventualidade de a sua ficar sob suspeita. Vários dos sacerdotes por ela acolhidos foram depois martirizados. Ela possuía um armário secreto com todo o necessário para a celebração da Missa. Segundo a tradição local, Margarida chegou mesmo a esconder sacerdotes na hospedaria do Cisne Negro, em Peaseholme Greem, sob os próprios narizes dos perseguidores.
Santa Margarida tinha uma personalidade cativante e atraente. Diz seu biógrafo que “todos a amavam e acudiam a ela em demanda de auxílio, consolo e conselho em suas penas. Seus criados tinham-lhe um amor tão reverente que, apesar de ela os corrigir com razoável severidade por suas faltas e negligências, e de saberem quando os sacerdotes frequentavam a casa, tinham tanto cuidado em conservar os seus segredos, como se fossem verdadeiros filhos”.2
Ela começava seu dia com a meditação, e se havia algum sacerdote, assistia à Missa ajoelhada atrás de seus filhos e empregados.


Seu dramático e heróico fim
Em 1585 a situação agravou-se ainda mais. Elisabeth I decretou o chamado Ato Estatutário, tornando crime de alta traição o fato de qualquer padre, sobretudo se jesuíta, permanecer nos domínios dela. A heróica Margarida então afirmou: “Pela graça de Deus, todos os padres ser-me-ão ainda mais bem-vindos, e farei o que puder para fazer progredir o divino culto católico”.3
No dia 10 de março de 1586, João Clitherow foi intimado a explicar ao conselho municipal a ida de seu filho para o exterior. Como ele era membro do conselho e conhecidamente anglicano, conseguiu justificar-se. Mas mandaram revistar sua casa.
Margarida não se preocupou muito, pois no momento lá não havia nenhum sacerdote refugiado, e seus filhos e criados eram de confiança.
Mas os policiais irromperam de modo inopinado, justamente na sala de aula das crianças. O professor fugiu pela janela. Entretanto, havia na sala outras crianças da vizinhança, uma das quais entrou em pânico e acabou mostrando às autoridades o esconderijo secreto e o armário onde se encontrava o material da Missa. Com isso a polícia possuía evidência contra Margarida. Seus dois filhos foram mandados para a casa de um protestante, e seus criados postos na prisão.

Margarida negou-se a se submeter a julgamento. Neste poderiam ser chamados a depor seu marido, seus filhos e criados, possivelmente sob tortura, o que ela quis evitar. Sabia que, em qualquer caso, seria executada: “Eu não conheço ofensa pela qual devo me confessar culpada. Não tendo feito nenhuma ofensa, não preciso de julgamento”, disse ela.4
Os juízes condenaram-na então a ser esmagada até a morte – pena infligida aos que não se submetiam a julgamento – “por ter alojado e mantido jesuítas e padres do seminário, traidores da majestade da Rainha e de suas leis”.
No momento do suplício, Margarida foi convidada a rezar pela Rainha. Ela o fez desejando a conversão do monarca à verdadeira fé. Alguns anglicanos presentes lhe pediram que rezasse com eles. Ela se negou, afirmando: “Eu não rezarei convosco, nem vós rezareis comigo. Nem direi Amém a vossas orações, nem vós às minhas”.5
Os dois carrascos encarregados da horrível execução contrataram alguns mendigos para substituí-los. Margarida, que esperava seu quarto filho, foi deitada sobre uma pedra afiada que, quando pressionada, deveria romper-lhe as costas. Sobre seu corpo foi colocada uma porta, e encima desta empilhando grandes blocos de pedra, até que a mártir fosse completamente esmagada sob um peso de quase 700 quilos.
Ela foi martirizada no dia 25 de março de 1586, Sexta-feira Santa.


“Depois da morte de Clitherow, Elisabeth I escreveu aos cidadãos de York para dizer que ficara horrorizada com o tratamento dado a uma mulher: devido ao seu sexo, Clitherow não deveria ter sido executada”.6 O que soa como uma hipocrisia, pois foi o que ela fez no ano seguinte com a católica Maria Stuart, a quem mandou decapitar para não ter uma rival ao trono da Inglaterra.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

O que deve pensar um católico sobre o Concílio Vaticano II?

O que deve pensar um católico sobre o Concílio Vaticano II?

O Concílio Vaticano II foi uma reunião dos dois mil e quinhentos bispos de todo o mundo durante quatro sessões, desde outubro de 1962 a dezembro de 1965. O Papa João XXIII, em sua alocução de abertura ao concílio (11.10.62) declarou que sua finalidade era que a fé católica se conservasse e ensinasse, mas que sem recorrer a condenações, senão fazendo um chamado a todos os povos. O Papa Paulo VI concorda com seu predecessor: o Concílio Vaticano II “foi um acontecimento importantíssimo porque (...) antes de tudo buscou as necessidades pastorais e, alimentando-se na chama da caridade, fez um grande esforço para chegar não somente aos cristãos ainda separados da comunhão com a Santa Sé, senão também a toda família humana” (breve de clausura, 8.12.65).
Os ensinamentos do Concílio e sua interpretação por Roma
Com tais idéias, não é de estranhar que encontremos o ensinamento católico apresentado de forma débil (sem definições nem condenações), confusa (sem terminologia técnica nem escolástica) e unilateral (para atrair aos não católicos). Todo esse ensinamento vago e ambíguo, que já é liberal em seu método, seria interpretado em seu verdadeiro sentido liberal depois do Concílio.
Vejamos alguns exemplos de como interpreta Roma (20) os ensinamentos conciliares.
a) Sacrosantum Concilium: deve insistir-se na liturgia da palavra (n.9), nos aspectos da Missa como banquete (n.10), na participação ativa do povo (nn.11 e 14), e portanto na língua vernácula (nn. 36 e 54); o resultado é a Nova Missa (cfr. C5).
b) Unitatis Redintegratio: os católicos devem orar com os protestantes (nn. 4 e 8) o resultado é a hospitalidade eucarística. (cfr. C8)
c) Sacrosanctum Concilium: devem revisar-se os ritos e fórmulas de penitência (n.72), e a Extrema Unção deve converter-se em uma Unção de Enfermos (nn. 73 e 75); o resultado são a confissão cara a cara e as absolvições gerais, e no sacramento da Extrema Unção uma nova matéria, uma nova forma e um novo sujeito (os enfermos que não estão em perigo de morte) (21)
d) Lumen Gentium: a Igreja de Cristo subsiste em (não é) a Igreja Católica (n.8); o resultado é que também se encontra nos “irmãos separados” (Ut unum sint, n. 11) (22).

e) Unitatis Redintegratio: A Igreja de Cristo tem irmãos separados em “Igrejas”[sic] separadas (n.3), que devem ser como irmãs (n.14); e portanto não há necessidade, por exemplo, de converter aos ortodoxos (23).
f) Optatam Totius: os seminaristas devem conhecer a filosofia moderna e o progresso da ciência (n.15), a psicologia e a sociologia (n.20); o resultado é que se fomenta o estudo em universidades seculares, mas não o do tomismo, e aparecem espiritualidades abertas, moralidade subjetiva, etc.
g) Gaudium et Spes: se identifica o matrimônio com o “amor conjugal” (nn. 48 e 50), a Igreja renuncia a todos os privilégios que lhe outorgava o Estado (n.76), e deseja uma autoridade mundial (n.82); o resultado é respectivamente, o fiasco das nulidades matrimoniais (cfr.C8), que a religião católica deixa de ser religião de Estado em todo o mundo, e que se presta um pleno apoio a Organização das Nações Unidas.
O mesmo esquema poderíamos repetir com todas as inovações aprovadas.
Os erros doutrinais do Concílio
O que é ainda mais grave: o Concílio foi sequestrado por elementos liberais da Igreja, que desde o princípio conseguiram o rechaço dos esquemas preparatórios pré-conciliares confeccionados para sua discussão, e os substituíram por outros esquemas progressistas redigidos por seus próprios “experts”. (Os liberais também conseguiram introduzir seus membros nas comissões). Os novos esquemas, aprovados como decretos, constituições e declarações do Concílio, continham, mais ou menos, explicitamente, erros doutrinais pelos quais os liberais haviam sido condenados no passado.
Tomemos como exemplos as seguintes passagens do Concílio e comparemo-las com a doutrina católica:
a) Gaudium et Spes: o homem é “a única criatura terrestre a que Deus amou por si mesmo” (n.24), idéia oposta a “tudo fez Javé para seu fim” (Prov. 16, 4);“todos os bens da terra devem ordenar-se em função do homem” (n.12), sem mencionar que a finalidade é servir-lhe de ajuda para salvar sua alma; “o Filho de Deus com sua encarnação se uniu em certo modo com todo homem” (n.22), quando o Concílio de Éfeso fala de que Deus assumiu uma natureza humana individual (Denz. 114); “a natureza humana (...) foi elevada também em nós a dignidade sem igual” (n.22), invés de “pouco menor que os anjos os fizeste” (Sl. 8,6); fala da “excelsa dignidade da pessoa humana” (n.26), que só existe em quem vive honestamente (Ap. 3, 4); e afirma “seus direitos e deveres universais e invioláveis” (n.26), quando a quem desperdiçasse seus talentos lhe seriam tirados (Lc 19, 24).
b) Dignitatis Humanae: “Este Concílio Vaticano declara que a pessoa humana tem direito a liberdade religiosa. Esta liberdade consiste em que todos os homens estejam imunes de coação (...) de qualquer potestade humana, e isto de tal maneira, que em matéria religiosa nem se obrigue a ninguém a fazer contra sua consciência nem se lhe impeça que atue conforme ela (...) dentro dos limites devidos (...) Este direito da pessoa humana a liberdade religiosa deve ser reconhecido no ordenamento jurídico da sociedade, de forma que chegue a converter-se em um direito civil” (n.2); porém, a doutrina católica condena as seguintes proposições: “a liberdade de consciência e de cultos é um direito livre de cada homem, que deve ser proclamado e garantido legalmente em todo Estado bem constituído (...) o melhor governo é aquele no qual não se reconhece o poder político a obrigação de reprimir com sanções peais aos violadores da religião católica, salvo quando a tranqüilidade pública assim o exija” (Pio IX, Quanta Cura, n.3).
c) Unitatis Redintegratio: “o espírito de Cristo não recusou servir-se delas [das igrejas e comunidades separadas] como de meio de salvação” (n.3), contra P2.
d) Ad Gentes: “promova-se a ação ecumênica de forma que (...) os católicos colaborem fraternalmente com os irmãos separados (...) na comum profissão possível da Fé em Deus e em Jesus Cristo diante das nações” (n.15), contra P7.
e) Nostra Aetate: “A igreja Católica não rechaça nada do que nestas religiões [não cristãs] haja de santo e verdadeiro. Considera com sincero respeito os modos de obrar e de viver” (n.2), enquanto que as Sagradas Escrituras dizem que“todos os deuses dos povos são demônios” Sl. 95, 5) e “não aprenderás a imitar as abominações daquelas nações” (Deut. 18, 9).
f) Lumen Gentium: “a ordem dos bispos (...) junto com sua cabeça, o Romano Pontífice, e nunca sem esta cabeça, é também sujeito da suprema e plena potestade sobre a universal Igreja” (n.22), contra P4; e “a consagração episcopal, junto com o ofício de santificar, confere também o ofício de ensinar e reger” (n.21), contra a doutrina da Igreja segundo o qual a “dignidade episcopal depende imediatamente de Deus em quanto ao poder de ordem, e da Sede Apostólica em quanto ao poder de jurisdição” (Pio VI, Deessemus Nos). «la dignidad episcopal depende inmediatamente de Dios en cuanto al poder de orden, y de la Sede Apostólica en cuanto al poder de jurisdicción» (Pío VI, DeessemusNos).
O Concílio mesmo anima as tendências liberais (e seu impulso se converterá na política vaticana pós-conciliar) e se separa do ensinamento católico tradicional. Mas não tem autoridade para nenhuma das duas coisas (P5 e P6). Nossa posição deve ser: “nos negamos e temos negado sempre a seguir a Roma de tendência neomodernista e neoprotestante que se manifestou claramente no Concílio Vaticano II e depois do Concílio em todas as reformas que dele surgiram. 24
E em torno dessas tendências neomodernistas gira todo o Concílio. 25
Foi infalível o Concílio Vaticano II?
Não por razão do magistério extraordinário, posto que rejeitou definir. O mesmo Papa Paulo VI, em audiência de 12.1.66, disse que “havia evitado proclamar de forma extraordinária dogmas dotadas de nota de infalibilidade” 26.
Nem por razão do magistério universal ordinário, porque este consiste na maravilhosa uniformidade dos ensinamentos dos bispos dispersos por todo o mundo (e não quando estão reunidos, em que possam ser objeto de grupos de pressão) 27 e não é um poder para definir, senão para ratificar o que sempre se creu. A universalidade em questão não é somente de lugar (todos os bispos) senão também de tempo (sempre): cfr. Vaticano I se P6.
Nem por razão do magistério simplesmente autêntico 28, porque o objeto de todo magistério é o depósito da fé, que deve ser santamente custodiado e fielmente exposto (Vaticano I, Denz, 1836), e não a adoção como doutrina católica de “os melhores valores de dois séculos de ‘cultura liberal’”, ainda que tenham sido “purificados”(Card. Ratzinger, Gesú, Nov. 1984, pág. 72; cfr. Gaudium et Spes, nn. 11 e 44).
E assim, este Concílio foi “ecumênico” mais no sentido moderno de apelar ao sentimento religioso de todos os povos, que no sentido tradicional de representar a toda a Igreja docente.
20. Outra história é como se interpretam as diretrizes nas paróquias.
21. Afeta tudo isto “a substância dos sacramentos” sobre a qual a Igreja não tem poder (cfr. Pio XII em P5)?
22. Ut unum sint é a encíclica de João Paulo II sobre o ecumenismo (25.5.95).
23. Cfr. A comissão Internacional Conjunta para o Diálogo Teológico entre a Igreja Católica e a Igreja [sic] Ortodoxa, em Balamand (Líbano), 17/24.6.93
24. Declaração de 21.11.74, cfr. Apêndice I.
25. “O Papa João Paulo II faz não por certo da Sagrada Escritura, senão do acontecimento de Assis, o ‘schibbolet’ [sinal, cfr. Juec. 12, 5] da correta ‘compreensão da correta ‘compreensão do Concílio’”, Johannes Dörmann, O itinerário teológica de João Paulo II, Fundação São Pio X, Buenos Aires 1994, cap. II, pág. 48.
26 Cfr. la declaración de la Comisión Teológica del 6.3.64, repetida por el Secretario General del Concilio a 16.11.64: “dada o costume conciliar e o propósito pastoral do presente Concílio, este Sagrado Sínodo só define as matérias de fé e moral como obrigatórias na Igreja quando o mesmo declare abertamente”. Nunca o fez.
27 Église et Contre-Église au Concile Vatican II, Courrier de Rome, 1996, pág. 255.
28 Ibid., pág. 287.
29 Acta Apostolicae Sedis (LXX), págs. 920 e ss.

Tradução: Capela Nossa Senhora das Alegrias -Vitória/ES
Observações à Tradução: capela@nossasenhoradasalegrias.com.br
Fonte: Retirado do Breviário sobre a Fraternidade São Pio X